segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sobre captadores na posição central

Companheiros,

No último post eu notei que algumas pessoas usaram a sessão de comentários pra fazer perguntas e colocações sobre captadores da posição central. Eu já perdi a conta de quantas pessoas me perguntaram isso aqui no blog, no orkut e por e-mail. Eu acho esse assunto bastante sério e resolvi fazer um post pra gente trocar idéias sobre isso.

Antes de falar de captador do meio, vamos aos captadores das pontas. Tem gente que gosta de colocar captadores de ponte e braço de ganho alto. Tem gente que gosta de ganho alto na ponte, mas prefere ganho vintage no braço. Mas tem gente que prefere ter single coils de saída baixa. Isso é questão de estilo, é claro.

Por que raios eu tô falando dos captadores das pontas? Por um motivo simples: as diversas “escolas” de uso do captador do meio dependem diretamente dos outros captadores. Vamos falar dessas “escolas”:

1- a escola Steve Vai: é o velho H-S-H. O single no meio em geral é um single real e não um humbucker em tamanho single. Esse grupo não usa o captador do meio sozinho – eles sempre usam o do meio junto com algum outro. Eles usam um single real no meio por preferirem a fiação que liga apenas uma das bobinas dos humbuckers junto com o single do meio. Os captadores são arranjados de forma que o single e a bobina que é ativada do humbucker fiquem em paralelo e RW/RP uma em relação à outra. Isso oferece um timbre sem ruídos, limpo e nítido, mais adequado a dedilhados limpos e acordes. Nessa fiação, a única posição da chave que gera hum é o single sozinho. Resumindo: na escola Steve Vai, o single do meio serve pra oferecer um timbre mais limpo a uma guitarra que geralmente tem humbuckers de ganho muito alto nas pontas. É nítida a diferença de volume quando o single do meio é acionado. Isso acontece pela diferença de ganho entre o single e os outros dois captadores. Mas isso é realmente a intenção.


Há pessoas que usam um stack ou humbucker em tamanho single de baixo ganho no meio. Eles preferem misturar os timbres, sem cancelar bobinas. Aqui também o intuito é ter timbres limpos mesmo tendo captadores de ganho alto nas pontas.

2- A escola Juninho Afram: é um H-H-H. Usei o Juninho como referência por saber que ele usa captadores de ganho alto no meio. Essa escola não quer saber de timbres limpos na guitarra. É pancada em todas as posições – exceto nas posições intermediárias, quando os captadores ficam em paralelo, ou seja: o ganho dos dois é somado e dividido por dois. Mesmo assim não há um timbre verdadeiramente limpo (no sentido de cristalino Fender) na guitarra, a não ser que haja algum push-pull pra cancelar bobinas. A intenção no H-H-H é não haver muita diferença de ganho entre os captadores. Alguns instrumentos H-H-H notáveis: a Les Paul Peter Frampton, Les Paul Ace Frehley e a lindíssima PRS Chris Henderson;

3- A escola dos timbres magros: representados por estilos muito diversos como funk, banda Calipso, country, pop e o diabo a quatro. Em geral são 3 captadores de ganho baixo (singles reais, stack ou humbuckers em tamanho single de baixo ganho). Eles misturam os captadores com o real intuito de obterem timbres mais magros, ocos, de ganho baixo e com o velho “quack” tipo Fender. Ouça o Mark Knopfler, Nile Rogers, Chimbinha e John Frusciante e vocês vão entender.

(Rapaz, só mesmo nesse blog pro Chimbinha aparecer como referência de timbre. E junto com o Mark Knopfler!!! Tem coisas que só acontecem no Zona do Humbucker...)

4- A escola SRV: pra quem não sabe, a chave de 5 posições é “novidade”. Ela só surgiu em 1977. Até então, só havia 3 posições na strato. Alguns blueseiros usavam e usam muito o captador do meio sozinho. Eric Clapton usa às vezes. Buddy Guy também. Uma informação pra quem não sabe: o riff de Pride and Joy é pra ser tocado com o captador do meio. Por isso eu chamei de “escola SRV”;

5- A escola Blackmore: Malmsteen também é dessa escola. Observem fotos ampliadas do Malmsteen e do Ritchie e percebam que eles afastam o captador do meio das cordas. Pros caras dessa escola o captador do meio não serve pra nada. Eles usam só os das pontas. Bem, quase todas as Gibson também só têm 2 captadores, o que os coloca nesse time. Os imãs expostos do captador da strato são de alnico V, que têm uma atração magnética relativamente forte. Pense comigo: um dos fatores que atrapalha o sustain da strato é que ela tem 3 pólos de alnico jogando força em cada corda, atrapalhando o sustain. Se você elimina o captador do meio, você tem mais sustain na guitarra. Outro argumento dos que não usam captador do meio é que a palheta fica raspando nos pólos do captador.

Pronto, eis as possibilidades. Qual é a sua necessidade? Timbres magros pra funk? Você usa captadores de ganho alto e quer ter um timbre um pouco mais limpo sem trocar de guitarra? Está insatisfeito com a diferença de volumes entre os captadores?

Você só precisa se perguntar algumas coisas. Imagine que você tem um par de Evolution na sua guitarra. Você tem certeza que precisa mesmo de um terceiro captador de ganho alto? Pergunto isso por já ter usado captadores de ganho alto no meio. Olha, você acha mesmo que há uma grande diferença entre o som de um Litlle 59 no braço e no meio? Eu não uso mais captador no meio. Sou da escola Blackmore de carteirinha. Eu só coloco captador do meio na guitarra se for pra ter um timbre realmente diferente. Portanto, de todas as escolas, a H-H-H é a que faz menos sentido pra mim. Mas lembre-se: isso é questão pessoal e você deve ir atrás do seu timbre.

Então vamos às dúvidas que surgiram no orkut, por e-mails e aqui no blog:

Você tem humbuckers de ganho alto q quer ter um timbre limpo digno na gutiarra? Você pode colocar algum single verdadeiro no meio e fazer a fiação que cancela uma bobina de cada humbucker da ponte. Pra isso você precisa ter certeza que vai comprar um single que seja RW/RP em relação aos humbuckers e pedir pro seu luthier fazer a fiação. Pra isso você tem toda a linha de singles reais dos fabricantes: os Duncan Five-Two, Vintage Staggered, Alnico II Pro, um caminhão de Fender, os Rosar True Vintage e Vintage Hot. Esses são os mesmos que você deve experimentar se quiser os timbres pra country, blues, pop ou funk. Há muitos modelos disponíveis.

Outra possibilidade é colocar um bom stack ou humbucker em tamanho single de ganho baixo e instalar o captador sem arranjos especiais na fiação. Aí nos temos Duncan Duckbucker, STK-S1, STK-S4, Dimarizio Virtual Vintage e a linha Área, Cruiser, os ótimos stacks da Tom Anderson ou os Rosar Strat Tone.

Se você tem humbuckers de ganho alto e quer um captador no meio de ganho alto, experimente o JB Jr. neck, Litlle 59 neck, Cool Rails neck, Fast Track 1, Rosar King Mid neck, Extreme Hot neck, Screaming Distortion ou Twin Vintage neck. É também um caminhão de alternativas.

Estou à disposição pra tirar as dúvidas. Abraço!


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sérgio Rosar Extreme Hot


Todo mundo que acompanha o Zona já está sabendo que eu estou trabalhando com o Sérgio Rosar no desenvolvimento de captadores de guitarra. Tem sido um trabalho maravilhoso, gratificante e divertido. No nosso trabalho eu encontrei 3 categorias de captadores: modelos novos sendo desenvolvidos, modelos antigos passando por pequenas modificações e modelos antigos que já nasceram tão legais que não havia nada mais a modificar.

O captador que quero apresentar a vocês hoje pertence à terceira categoria. O Extreme Hot faz parte da linha Dual Blade (humbuckers em tamanho de single com lâminas). Essa linha conta com 5 modelos: Strat Tone, Twin Vintage, Screaming Distortion, King Mid e o Extreme Hot. A timbragem é variada e temos desde um som típico de strato (Strat Tone) até a brutalidade metaleira (Extreme Hot). Ou seja: tem som pra todo mundo.

Eu estava bem curioso em testar o captador – desde que eu havia comprado o Tone Zone S que eu não testava nenhum outro humbucker em tamanho single de ganho alto – e vocês sabem que eu ainda não me recuperei do trauma dos humbuckers em tamanho single da Seymour. E foi aí que eu quase chorei ao tocar com o Extreme pela primeira vez: eu achei parecido com o Hot Rails. Toquei um pouquinho e encostei a guitarra. Mandei um e-mail pro Sérgio quase chorando de tristeza e ele me respondeu dizendo pra eu tocar mais com o captador. Ele estava certo. Demorou quase uma semana pra cair a ficha, mas depois de um tempo eu comecei a entender a idéia do Extreme. Bem, a idéia fundamental do Hot Rails é: um humbucker em tamanho single bastante enrolado, com imã cerâmico e duas lâminas resultando num timbre de ganho alto, anasalado, pouco alcance dinâmico, com graves e agudos sem profundidade. A idéia do Sérgio foi partir dessa plataforma básica e experimentar com outra pressão e dispersão do fio e alterar a distância entre as lâminas. O resultado disso é um captador muuuuito marrento, abusado, com um punch destruidor, alcance dinâmico mais extenso, com graves mais profundos e presentes e um pouco mais de brilho que o Hot Rails.

Se você toca rock’n roll ou pop talvez possa se beneficiar um aumento de ganho oferecido por este captador, mas é claro que ele foi feito pra hard rock e metal pesado. Riffs abafados com power chords ficam com peso de uma bigorna e com definição impressionante. Você vai encontrar no Extreme Hot os médios anasalados do Hot Rails, que parecem ser restritos a uma faixa específica (a própria curva tonal do Extreme Hot fornecida a mim pelo Sérgio sugere uma distorção angular). Acontece que amplitude do timbre é muito maior graças às pontas da equalização mais abertas e presentes.

Eu já falei isso em outro post, mas vou relembrar: os Rosar são fabricados à mão pelo mestre Rosar e usando materiais made in Brasil (nada de material ou mão de obra importadas na Rosar Pickups). Você vai ter garantia, preço muito atraente, acabamento ótimo e os Dual Blade têm 3 opções de cores: preto, branco e zebra. O meu é branco. Lindo.

Um amigo meu e grande professor chamado Pilho gravou uma música chamada Frente e Verso usando a combinação Extreme Hot na ponte e o Twin Vintage no braço na sua Washburn strato. Essa música é a prova de que esses captadores soam muito bem no contexto do rock tecnicamente ambicioso. Vocês podem ouvir a música em www.myspace.com/pilhotrix

Tenha em mente que este é um captador específico. Não espere que sua strato permaneça com timbres típicos de strato com o Exteme Hot. Quem coloca este captador não quer o timbre do David Gilmour. Se você quer rolar o hard rock e metal com sua strato esse é o captador perfeito pra você.

Com seu pico de ressonância em 4,6kHz ele nunca vai ficar agudo demais. Esse captador tem 340mV de saída e é provável que ele seja o humbucker em tamanho single de maior ganho disponível no mercado atual. Acontece que a timbragem do captador realmente sugere que ele tem muito mais ganho.


- Preferi usá-lo para: sons de ganho muito alto para hard rock e metal

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que vc pode buscar os médios anasalados do Hot Rails e se dar ao luxo de abrir as pontas da equalização.

domingo, 29 de junho de 2008

Livewire™ Dave Mustaine Model


Certo, eu tô com 27 anos de idade e 10 deles fuçando eletrônica de instrumentos, mas isso não me isenta de ter minhas preferências, vícios e preconceitos. As preferências eu cultivo com carinho, me ajudam e quase sempre são construtivas. Os vícios aparecem como efeitos colaterais das preferências e podem até ajudar, mas podem impedir que eu construa coisas novas. Os preconceitos podem ser efeitos colaterais dos vícios e muitas vezes são a razão da gente virar um velho chato e rabugento.

Meu preconceito com captação ativa vem de ouvir todo mundo que a usa e não gostar do som – com a honrosa exceção do David Gilmour. EMG acabou sendo a referência em captação ativa no mundo todo. Reconheço e aplaudo de pé todas as suas vantagens dos ativos: ruído baixíssimo, baixa impedância (que permite o uso de cabos longos ou pedais sem bypass total) e a não necessidade do aterramento da ponte (que te livra de eventuais choques no caso de algum vazamento de corrente ou curto-circuito no equipamento). Captadores ativos teriam impedido o horroroso acidente com um guitarrista fortalezense chamado Davi Fernades, que é meu cliente. Num show em Teresina ocorreu uma descarga elétrica no equipamento dele, talvez causada com um curto. Ele estava segurando a guitarra encostou a outra mão no amplificador. Ele estava aterrado pelas cordas e o choque foi grande que ele fraturou uma vértebra.

Zakk é o cara da moda, então eu vivo instalando os EMG 81 e 85 em guitarras aqui. Eu reconheço que o timbre é adequado pra metal extremo e eles têm um ótimo ataque, mas aqueles médios atarracados são complicados de eu engolir. Já tocaram nos EMG ativos de guitarra? Nunca acharam que a guitarra está “gripada” com aqueles médios saindo como se a guitarra estivesse com o nariz entupido? Aí vem a Duncan e lança a nova geração dos seus captadores ativos, dentre os quais o Livewire Mustaine. Eles juram pelo espírito do finado Seth Lover que eles soam como se fossem versões ativas do JB e o Jazz Model. E agora, o que eu devia fazer? Parei, pensei, filosofei, me enchi de coragem, tirei o escorpião do bolso e comprei os malditos.

Se a proposta era ser uma versão ativa do kit Hot Rodded, imaginei que o ideal era instalar os captadores numa guitarra macia e minha Horizon foi escolhida. Só que dando uma olhada no catálogo da Duncan eu vi que os picos de ressonância do kit Mustaine não casavam com o kit Hot Rodded – aliás, não passavam nem perto. Os Mustaine tinham picos em faixas mais baixas que o kit Hot Rodded. Fiquei encucado, mas mesmo assim resolvi esperar os captadores chegarem pra instalar na ESP.


O visual do captador é lindíssimo. Não tem aquela capa feiosa dos EMG e antigos Livewire. Ele tem uma capa metálica cor de grafite com a assinatura do Dave Mustaine estampada e por trás é totalmente selado com resina epóxi. Minha ESP ficou tão linda com eles que eles só saíram dela por causa do timbre: o que estava no catálogo era verdadeiro. Pro meu gosto pessoal os captadores não casaram legal com uma guitarra muito macia. Na Horizon eles não atingiram os picos de agudos que eu gosto pra atravessar o som da banda. Eu nem sonharia em colocar esses captadores numa Gibson.


Mas na minha Teleblaster de cedro aguda feito um curió os Mustaine apareceram e o careca que vos escreve teve orgasmos timbrísticos. Vamos começar pelo óbvio: eles têm um ganho um pouquinho maior que o JB e o Jazz Model, mas nenhuma diferença gritante em termos de ganho. Numa guitarra rachadiça, aquele brilho que faltou na ESP apareceu e o ataque dos agudos ficou bem evidente. Outra coisa que ficou misteriosamente evidente foi o DNA Duncan – os agudos crocantes tipo “mamãe, eu quero ser um captador Gibson!”, os médios amplos, o ataque marrento e até a leve falta de articulação do JB. Todo mundo sabe que pra mim o JB é a drag queen dos captadores (exagerado, caricato e espalhafatoso). No entanto, faça um exercício de imaginação e tente visualizar o JB depois de 3 anos no Exército. O Mustaine de ponte é isso. Curto, grosso, sem frescura, cabelo cortado com máquina, limpo e o mais surpreendente de tudo: não parece em nada com outros captadores ativos. Nada de som processado aqui. Quando eu ouço os EMG eu sei que são EMG e ativos. Mas se eu fizesse o teste cego com o os Mustaine eu jamais diria que é um captador ativo.


O de braço é satisfatório: moderado, agradável e articulado. Faz seu papel dignamente, mas faltou um pouco mais de brilho e informação de médio-agudos. Esse sim deveria ter um pouco mais do caráter do Jazz Model, que é um poço de cristalinidade e brilho. O Mustaine de braço não vai fazer feio na sua guitarra, mas a impressão que eu tenho é que a Duncan gastou mais tempo dando atenção ao modelo de ponte e não foi tão criteriosa na timbragem das faixas altas do outro.
Eu não vou gastar o meu tempo e o de vocês falando sobre o desempenho do captador em ganho alto – os captadores timbram polidos, poderosos, rugem alto e foram feitos pra um deus do metal que ressurgiu das cinzas. O que me deixou de queixo caído foi o desempenho dos captadores em ganho médio. Eles soaram são consistentes, tão dinâmicos, tão orgânicos e tão delicados que eu fiquei aqui sem entender como é que um captador com proposta metaleira me deu os sons do Jeff Beck do Blow by Blow!!! Nunca em nenhuma guitarra e captador meus me deram um som tão parecido com o de Cause We’ve Ended As Lovers!!! Não é brincadeira. Só vocês instalando pra acreditar. Curiosidade: veja a resenha sobre o JB e descubra quais captadores estavam na tele que o Jeff Beck usou pra gravar Cause We’ve Ended As Lovers.

Baixa atração magnética, baixa impedância e sem precisar de aterramento de cordas (as vantagens dos captadores ativos não fazem mal a ninguém, concordam?). Mas os Mustaine não têm sons de robô, têm visual deslumbrante e sons com DNA Duncan muito bons. A Duncan abriu a porteira pra fazer outros Livewire com sons mais orgânicos e talvez um par com ganho moderado. Por hora os Blackouts estão por aí devastando o planeta, mas soam mais próximos dos EMG. Enquanto isso os Mustaine são muito bons e não soam processados. Eles parecem apenas com ótimos Seymour Duncan clássicos. E isso é muito bom.

- Preferi usá-lo para: sons de ganho muito alto sem ruídos e timbres com ganho médio como os de Jeff Beck da era Wired e Blow by BLow.

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que atirar nos sons do Megadeth e acertar em Cause We've Ended as Lovers é uma infelicidade muito feliz.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sobre a parceria com a Sérgio Rosar Pickups

Muito bem, cá estou de volta às atividades e começo dizendo que estou muito feliz pela repercussão que o blog está tendo. Ando recebendo e-mails e recados no Orkut aos montes. Essa é a primeira coisa boa. A segunda é que através do blog eu fui contatado por um jovem senhor de Florianópolis chamado Sérgio Rosar. Ele é um construtor de captadores. Nesse momento a Rosar Pickups já conta com uma linha completa e à venda de single coils, humbuckers em tamanho single (que ele chamou de Dual Blade) e humbuckers de quatro bobinas (chamado de Quad Blade). O Sérgio me pediu para ajudá-lo a desenvolver sua linha de humbuckers e já estamos trabalhando feito dois malucos há quase dois meses. Até o momento em que escrevo esse texto eu já recebi 21 captadores Rosar que estão espalhados em “trocentas” guitarras minhas e em guitarras de duas pessoas de minha confiança para testes.

Amigos, dentre os Dual Blade, há dois modelos que estão fadados a ser um sucesso: o Twin Vintage (uma versão mini de um PAF, perfeito pro braço) e o Extreme Hot (captador de ponte bem agressivo). Com esses dois captadores o Sérgio conseguiu uma proeza: capturar tudo que eu gosto nos humbuckers em tamano de single e eliminar as deficiências. Eles são incríveis! Eu não tive nenhuma participação no desenvolvimento desses captadores. O mérito é todo do Sérgio.

Dentre os que estão em guitarras minhas há alguns que já estão definidos e outros que estão em desenvolvimento. Temos nesse exato instante três humbuckers de alto ganho pra ponte. Um deles o Sérgio chamou de Punchbucker. É o mais agressivo da turma e já tem seu companheiro pra braço definido. Fantástico pra quem desce a afinação. O segundo chama-se Rock King. Este não vai ter modelo de braço, pois achamos que a maioria das pessoas vai querer casá-lo com algum PAF no braço. Atenção, fritadores! Vocês vão gostar do terceiro! É o meu preferido até o momento e eu o batizei de Supershred. Este já tem seu modelo de ponte definido, fritado, testado e aprovado pelo careca que vos escreve. O Supershred está com seu parceiro de braço no forno e será definido em breve (tenho 3 protótipos em teste e um deles será o ponto de partida). Existe a possibilidade de um quarto captador entrar em cena, mas será um projeto futuro e será surpresa pra vocês.

Há dois PAFs em andamento. O primeiro deles é uma recriação do primeiro PAF, o de 1955, em que vocês terão muita dinâmica, muita suavidade, faixa de agudos extremamente detalhada e um som muito musical. Ele usará alnico 5, mas com um sistema de suavização do campo magnético, que torna o captador muito mais sensível à sua pegada e aumenta muito o sustain da sua guitarra. Assim como os PAFs de 55, esse captador não será parafinado. O segundo será uma versão com mesma quantidade de ganho, mas será parafinado, com menos detalhes de agudos e com o som gordo que todo mundo tá careca de ouvir dos PAF do fim dos anos 50. Ambos terão versões de braço e ponte. Nesse momento eu estou com 5 versões desses PAFs. Eu estou instigando o Rosar a fazer uma versão de um Hot PAF para a ponte depois que definirmos toda a linha.

Garanto a vocês que eu não estaria me envolvendo com um projeto se não fosse pra ser grande. Sérgio Rosar não está trabalhando pra criar uma linha “acessível” de captadores. Os produtos que eu tenho instalado nas minhas guitarras são, com a mais absoluta certeza, concorrentes diretos de Seymour, Dimarzio, Tom Anderson e Gibson, com a vantagem de ser mais baratos. Além disso, o Sérgio oferece um serviço de Custom Shop. Você quer um Tone Zone com menos médios? O Rosar faz.

Sérgio Rosar é um cara que me impressiona a cada dia. Ele é cheio de entusiasmo, dedicação ele escuta todas as minhas observações com atenção, mesmo que às vezes não concorde com todas elas. Ele me procurou querendo um parceiro de trabalho com o mesmo entusiasmo dele e encontrou. Lá se vão quase dois meses de trabalho sem parar – até aos domingos eu venho até a loja pra instalar captador em guitarra minha. Cada um de nós dois está fazendo sua parte com muito empenho e os frutos disso já podem ser observados e adquiridos por vocês. Vocês podem visitar o site www.sergiorosar.com e verificar os modelos disponíveis, embora os novos humbuckers ainda não estejam lá. Para qualquer esclarecimento vocês podem entrar em contato comigo ou com o Sérgio.

Portanto, eis o Zona do Humbucker e o seu fundador deixando de colaborar com vocês apenas virtualmente pra colaborar objetivamente – graças, é claro, ao trabalho de um pequeno gênio de Florianópolis. Esse é só o começo de um grande trabalho.


quinta-feira, 24 de abril de 2008

Aos companheiros de cordas que acompanham meu blog:

Um guitarrista chamado Raziel (um cara gente boa e íntegro, de quem eu até já comprei um par de captadores) fez o seguinte comentário no post passado:

Prezado Rafael, você escreve reviews para os guitarristas, ou para alguma revista? Porque pra vc tudo é bom! Tudo é "usável", assim fica difícil amigo. Parece review de Guitar Player, tudo uma maravilha...
É só minha opinião, os outros reviews eu li todos, este eu nem vou ler, porque certamente vai ser a mesma coisa, ou é bom pra uso X ou pra uso Y...

Bom, eu realmente adoraria escrever testes e esclarecer tópicos importantes sobre eletrônica de guitarras em alguma revista do ramo por dois motivos: o primeiro deles é que depois de 10 anos batendo cabeça com isso eu me sinto gabaritado para tanto - não custa nada lembrar o tanto de gente que tem por aí escrevendo besteira em coluna de revista e até mesmo publicando “guias de captadores” entupidos de informações incorretas. O segundo motivo é que eu vejo todo santo dia nos fóruns da net e no balcão da loja pela qual sou responsável um monte de gente desinformada comprando gato por lebre e eu gostaria muito de oferecer a essas pessoas um meio simples, fácil, barato e até mesmo divertido de obter informações sobre nosso instrumento.

É por esses dois motivos que eu adoraria escrever uma coluna numa revista. Acontece que é por esses mesmos dois motivos que eu me autorizo a escrever nesse blog. Se eu não me sentisse capaz de contemplar um deles dois eu jamais teria feito o Zona do Humbucker.

O outro ponto que eu gostaria de comentar acerca do que foi dito é muito óbvio. É claro como a água que todos os timbres são utilizáveis! Não existe som ruim. Existe timbre mal empregado. Imagine que você toca numa banda de baile. Imagine você tem à sua disposição uma elegante Les Paul - com seu timbre redondo e polido - e tem uma B.C. Rich Warlock. Qual das duas você escolheria? É óbvio que a Warlock é uma boa guitarra, mas ela se presta a uma outra coisa. Ou será que você imagina ir ao um show do Sepultura e ver o Andreas com uma 335?

O fato é que eu evito ao máximo fazer comentários tipo “esse captador tem médios muito feios”. Ora, o que raio é um médio feio? Eu não uso nenhum aparelho de medir qualidade de captador. Não existe um “belezômetro” nem um “feiômetro”. Sempre que eu vou fazer algum comentário baseado no meu gosto pessoal eu faço questão que isso fique bem claro e que não sirva de referência pra ninguém.

Eu nunca quis fazer isso no blog, mas vou confessar: eu não usaria um monte de captadores que na verdade são bem famosos! Quer um exemplo? O JB não teria lugar em nenhuma guitarra minha, tanto que vendi 2 dos 3 da minha coleção no mês passado. Ora, mas e daí? 90% dos seres guitarrísticos do universo adoram esse captador! Eu mesmo adoro escutar Michael Schenker e o Marty Friedman - que usaram o JB por décadas! Eu vendi meu PAF Pro, pois para o meu gosto pessoal ele não tem brilho o suficiente pra ir pro braço e é muito desarticulado pra ir pra ponte. E tem um monte de gente por aí que tem o Pro e é muito satisfeito com ele. O que é que você quer que eu faça? Quer que eu chame todo mundo de surdo? Quer que eu diga que todo mundo que pensa diferente de mim tem mal gosto? Eu não posso fazer isso! Como guitarrista, como luthier e como gerente de loja eu tenho mais é que ficar feliz pelos meus colegas de instrumento estarem satisfeitos! Pra mim é só isso que importa.

A última coisa que eu quero dizer sobre seu comentário é que você não é obrigado a ler nenhum dos posts. Se o meu estilo de fazer textos não lhe agrada é um direito seu e você deve exercê-lo se lhe for conveniente. Apesar disso eu tenho muito orgulho em dizer que esse blog recebe quase 100 visitas por dia na semana em que eu publico textos - e na ocasião do texto sobre o JB ele recebeu mais de 260 num único dia. É por causa desse blog que hoje eu tenho um monte de companheiros que me mandam e-mails, recados no orkut, comentários aqui no blog e esses mesmos companheiros me compram e vendem captadores e outras peças. Isso me dá muito estímulo pra continuar escrevendo apesar da minha falta de tempo – afinal eu sou luthier, cuido da loja o dia inteiro, atendo na clínica durante a noite (pra quem não sabe: eu sou psicólogo) e ainda tenho que arranjar tempo pra namorar, estudar e lutar jiu-jitsu!


Dito isso, esbravejo: longa vida à Zona!!!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dimarzio Fast Track 1 (DP181)



Até um tempo atrás eu não dava nenhuma credibilidade aos humbuckers em tamanho single. Parte dessa descrença veio de experiências ruins que tive com os humbuckers em tamanho single da Seymour (os JB Jr. e Litlle 59 aí da vida). Tanto que demorei anos pra me interessar em testar os Dimarzio.

A idéia de fazer um captador com duas lâminas é mais velha do que andar pra frente, mas no caso desse tipo de humbuckers em tamanho de single da Seymour e Dimarzio há uma grande vantagem: como os imãs são pequenos, a atração magnética é reduzida e as cordas vibram com mais naturalidade. Isso melhora a entonação e sustain da sua guitarra. Além de tudo isso esses captadores deixam as guitarras com um aspecto mais moderno.

Eu ouvi o som do Fast Track 1 pela primeira vez numa guitarra de um cliente (uma lindíssima Washburn com configuração HSS com o FT1 no braço) que veio trazê-la pra regulagem. Olhei pra guitarra e pensei: “mais um dos pickups com som de plástico”. Mas essa impressão durou até o momento em que o cara plugou a guitarra e tocou pra me mostrar o quanto a guitarra estava mal regulada. O captador de braço soava como se fosse o single coil mais gordo e cheio de punch do mundo. Olhei pra ele com cara de idiota e perguntei que captador era aquele e ele disse que era o FT1. E olha que a Washburn parecia que tinha sido regulada por um açougueiro e as cordas estavam muito velhas.

No outro dia eu olhei o catálogo da Dimazio e não compreendi bem a proposta do FT1: o catálogo dizia que ele soava como “um single com mais músculos”. O problema é que eu ouvia os sons do Vinnie Moore e não entendi como um captador com pouco médio pode me parecer mais “musculoso”. E como ele usava todo aquele ganho sem que o captador engasgasse como os singles costumam fazer? Ainda mais no braço!

De qualquer maneira eu comprei um o quanto antes e testei nas minhas guitarras. Consegui aquele milagre daquela Washburn! A primeira coisa que me ocorreu ao ouvir os sons é que, sim, ele soa um pouco mais processado e artificial do que um Texas Special da vida, por exemplo. Mas ora, isso não é um problema. Se alguém resolve colocar um FT1 na guitarra é justamente por querer uma coisa diferente de sons “normais” de captadores vintage, concorda? Mas veja: essa característica é muito discreta, não é som de plástico como eu achava antes de conhecer o captador.

Ele tem graves mais magros que o normal pra não engasgar nas cordas graves da sua guitarra. Ele tem brilho o suficiente pra não desaparecer no meio da sua banda. Os médios dele parecem ter sido mais sequinhos de propósito: você pode estar usando distorção num nível de Slayer que o som de captador do braço sempre vai parecer mais limpo e sem gordura demais de médios pra embolar. Quando eu toquei com muito ganho eu entendi em pouco tempo as razões que levam os fritadores a ter um caso de amor com o FT1, mesmo ele não sendo um captador de ganho alto: o fato dos médios e graves serem mais sequinhos fazem com que o som fique claro e não apastelado e embolado. O ataque permanece sempre focado e o punch da palhetada é sempre bem nítido antes da nota começar a soar, os graves são muito consistentes e não são esponjosos (tá vendo como só como soar um pouco processado não é tão ruim?).

E você quer saber as melhores partes? Primeiro: diferente dos humbuckers em tamanho de single de ganho mais alto (Tone Zone S, Super Distortion S, JB Jr. e outros) o FT1 responde bem a dinâmicas de palhetadas e botão de volume. Segundo: timbra magnificamente com níveis médios e baixos de ganho. Terceiro: ele é tão transparente que o som da sua guitarra aparece claramente!

Se você gosta do som da sua strato mas quer um captador de braço mais ofensivo, experimente o FT1. Você poderá aumentar o ganho do seu amp mas o som de single continuará lá quando você usar o canal limpo ou recuar o volume da sua guitarra. Infelizmente isso não acontece com os outros captadores citados.

Testei o FT1 em um pourrilhão de guitarras e em absolutamente nenhuma ele soou mal. Tenha você um bom e velho PAF na ponte ou um Invader (pra citar dois captadores muito diferentes) e quer um captador de braço que te leva a muitas áreas de timbre diferentes sem sacrificar o som natural da sua guitarra, você deve testar um FT1.

Só mais uma observação: onde ele soou melhor foi no braço da Soraia, a minha famosa telecaster que pegou fogo e que timbra insanamente aguda e rachadiça. Coloquei fotos dela nesse post. Essa tele tem um Super Distortion T na ponte.

- Preferi usá-lo para: bombar stratos sem ter que trocar o escudo para colocar um humbucker normal.

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que palhetadores compulsivos como eu podem ter no FT1 o seu melhor amigo pra posição do braço.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Dimarzio Tone Zone (DP 155)


Muitos captadores que eu conheço foram criados com a proposta de timbrar delicados e detalhados – pra mim o Duncan Seth Lover e a linha Area da Dimarzio são exemplos disso. Eles foram feitos para guitarras equilibradas. Qualquer excesso ou falta de freqüências oferecidas pela guitarra fica claramente evidenciada no resultado final do timbre.

Há um outro tipo de captadores: os casca-grossa. O Tone Zone é um deles. Um verdadeiro brutamontes. Não há nada delicado nele. Ele tem muita saída, muitos graves, muitos médio-graves e muitos médios. Isso não significa que ele seja um captador sem brilho. O fato é que a Dimarzio ofereceu esse captador para guitarristas que tenham instrumentos com excesso de brilho. Ora, imagine uma guitarra com corpo de maple ou qualquer outra madeira vidrenta. Agora imagine um braço de maple ou marfim e com escala de maple, marfim ou ébano. Agora o golpe fatal: imagine que essa guitarra tem uma Floyd Rose. Amigo, você vai ter aí um monstro tão cheio de agudos e com um ataque tão cortante que provavelmente seus pobres ouvidinhos vão pedir clemência.

Eu já instalei alguns TZ em Ibanez RG de clientes e tive resultados muito bons. Algumas delas eram guitarras muito cortantes e o TZ ajuda a arredondar os agudos por meio de uma injeção de anabolizantes de freqüências médias pra baixo. As cordas graves soam bem gordas e as notas mais agudas não ficam doendo nos seus ouvidos. Power chords na região média da guitarra – como o batido riff de Smoke on the Water – ficam tão parrudos e com uma autoridade tão grande que você fica se perguntando de onde saíram esses médios todos. É como um cachorro bulldog: você fica se perguntando como uma porcaria daquele tamanho consegue ser tão marrento e impor tanta autoridade.

De todos os captadores que eu já testei até hoje o TZ é o que melhor timbra com ligações alternativas. Ele timbra engraçado no modo single – um tipo de caricatura interessante de um single verdadeiro – e é ótimo no modo em paralelo. Nessa ligação ele perde um pouco de ganho e adquire um brilho bem legal. Ou seja: fica ótimo para momentos em que você não quer tanta infrmação de freqüências baixas e nem o ganho enorme do modo em série. Eu cheguei a instalar o meu TZ na minha Horizon, mas os resultados não foram legais pq o corpo dela é de swamp ash, que já não tem lá muito brilho. Mas ficou melhor no modo em paralelo.

Uma característica bem legal do TZ é que você vai recorrer menos ao captador do braço para palhetadas malmsteeneanas na região aguda da guitarra. Ele define bem as palhetadas velozes sem engasgar os agudos como a maioria dos captadores de ponte fazem.

Nada impede que você o coloque em guitarras de projeto Gibson, mas saiba que vai haver pobreza nas freqüências altas. Se você quer muito ganho, se a sua guitarra timbra muito rachadiça e recuar o botão de tone não está te satisfazendo, tente o TZ. É numa guitarra dessas que ele cabe perfeitamente. Esse captador é bom demais.


- Preferi usá-lo para: domar guitarras excessivamente agudas, riffs bem gordos e abusados, bem como palhetadas velozes em apelar para o captador do braço.
- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que o bom de ser guitarrista é que ser marrento e abusado são características louváveis.