segunda-feira, 5 de novembro de 2007

HH777 - Hellbucker e Realbucker

Amigos,

Hoje a resenha é especial. É o teste de um captador feito no Brasil com grande qualidade e desenvolvido pelo Henry Ho em parceria com a Malagoli. É a primeira vez que tive a oportunidade de trocar idéias com o criador de um modelo de humbucker – e isso é uma honra, ainda mais se eu considerar que nunca vou poder conversar com o Seth Lover e que dificilmente vou conhecer o Bill Lawrence, Larry Dimarzio ou Seymour Duncan. Segue o texto e, em seguida, alguns comentários feitos pelo Henry sobre o meu texto.

Estou aqui na frente do meu computador vendo DVDs de MMA (joga MMA no Google e descubra o que é) e no meu colo há uma strato projetada por mim. O corpo dela é de freijó com um tampo de imbuia. O braço é de maple som escala de jacarandá. A ponte é a minha preferida: Kahler. Tem outro brinquedo legal nessa guitarra: o Fernandes Sustainer. Sabe outra coisa legal que está instalada nessa guitarra? Um captador HH777. Nada mal pra um aprendiz de guitarrista e aprendiz de jiu-jitsu ficar rolando o rock enquanto os caras lutam, ainda mais se há uma maquininha de rock’n roll na guitarra como o HH777.

Eu fiquei feliz quando soube que Henry Ho estava lançando seu modelo de captador, pois é óbvio que um grande produto estaria sendo colocado no mercado. Henry é um cara meticuloso, bom guitarrista e ótimo luthier - além de ser um cara muito legal. Um captador com sua assinatura só podia ser um grande produto.

Algumas coisas relacionadas ao gosto pessoal de Henry não são segredo pra gente: ele parece preferir stratos, gosta de rock e metal clássico, fã declarado do George Lynch e parece ter preferência por captadores Seymour – e como eu sempre achei que os modelos clássicos da Seymour têm um DNA Gibson, era natural que Henry usasse alguns pickups Seymour e Gibson como referências.

As primeiras coisas que achei muito legais foram a embalagem e o visual do captador. Há seis pólos de parafuso tipo fenda num lado e seis pólos de parafuso Allen. Claro, se você conhecesse captadores, verá que a Seymour (olha ela aí) tem um modelo com esse aspecto. Um doce pra quem adivinhar! É o Screamin’ Demon, captador signature do George Lynch.

Eu adoro o timbre do Screamin’, mas acho que ele grita alto demais nas freqüências mais agudas e ele tem pouco ganho pro meu gosto pessoal. Mas foi exatamente aí que Henry e os seus parceiros da Malagoli tiveram a lucidez e gentileza de me ajudar: criaram o Hellbucker, um captador cujo ganho se estrutura de maneira muito parecida com um Seymour clássico, que não é exagerado em nenhuma freqüência, com quantidade de ganho semelhante a um JB, articulado e preciso, com um visual matador e o mais impressionante: um preço imbatível.

Experimentei os meus em várias guitarras, mas o de ponte soou melhor na citada strato. É claro que você pode rolar Stones ou coisas do tipo, mas o captador implora por heavy metal e rock instrumental agressivo. Bases pesadas feito pedra ou riffs velozes tipo Megadeth vão sair com todo gás e solos “satrianísticos” com wah-wah soam vivos e atravessam o som da sua banda facilmente. Esse captador soa equilibrado nessa minha strato, mas eu evitaria instalá-lo numa guitarra aguda e rachadiça demais.

Até aqui falamos do modelo de ponte. O de braço não me inspirou tanto. Seu nome é Realbucker. Ele é exatamente o contrário do que eu tenho procurado em captadores de braço. O HH777 de braço tem uma quantidade de ganho razoável, mas soa gordo demais pro meu gosto, com pouco brilho e clareza. Todo dia eu sou sabatinado no balcão da minha loja por guitarristas que querem instalar a velha combinação JB + 59 e vocês lembram do que eu penso do JB (vejam a resenha do JB). O HH777 de braço me faz lembrar o 59 e isso é um problema pra mim. O meu raciocínio é: de que adianta ter um captador de ponte agressivo e com boa dose de ardência se esse som cortante fica apagado quando usamos o captador do braço? Na minha opinião fica difícil usar esses dois captadores juntos, pois espero que um captador de braço apenas me ajude a articular as notas de maneira diferente e não que faça um corte tão abrupto de brilho - e esse é o exato problema de se usar o JB e o 59 na mesma guitarra.

Isso é um defeito? Não. É apenas uma particularidade dos HH777 e esses captadores merecem que você dê uma chance a eles. Eu recomendo o modelo de ponte em guitarras mais mornas (ele deve soar matador numa Les Paul!) e usaria o de braço numa guitarra bem brilhante, pra equilibrar um pouco sua falta de brilho.

É um problema que Henry tenha utilizado os Seymour como referência? Eu sinceramente acho que não. Ora, você precisa de um Screamin’ Demon com mais ganho e menos agudos cortantes? Precisa de um JB sem aquele paredão de médios? Pois Henry e a Malagoli nos deram esse captador e seu nome é Hellbucker – com qualidade incrível e por um preço campeão.

Um pedido a Henry e seus parceiros da Malagoli: eu ficaria muito, muito feliz se vocês tivessem mais do que um ou dois modelos de captador. Seria maravilhoso se vocês tivessem uma linha diversificada de HH777 – sugiro um modelo de ponte ainda mais agressivo que o Hellbucker, talvez com imã cerâmico, além de um modelo de braço mais brilhante e transparente. Quanto mais modelos tiverem, maior o número de pessoas que poderão ficar satisfeitas com seus produtos – portanto, mais vendas. Mas eu insisto: Henry e a Malagoli merecem muito crédito por oferecerem um produto de qualidade tão alta.

Henry comenta:

A idéia era fazer um captador de braço próximo ao 59 Model (SH-1) da Seymour Duncan e 57 Classic da Gibson. Para a posição do braço, minha preferência sempre foi para fabricantes como Tom Holmes e Lollar. O Model 59 da Seymour para mim soa articulado mas falta uma ponta de ganho. Já o Gibson 57 Classic é um captador muito legal, mas excede em médios e graves. O Realbucker utiliza o Alnico 5, evitamos o Alnico 2 para obter mais ganho e produzir um agudo mais atrevido.

Em termos de ganho, o Realbucker tem um incremento adicional que proporciona mais ataque e menos compressão. Neste quesito, o pickup possui similaridades com o Virtual Hot PAF da Dimarzio. Na questão do timbre, o Realbucker é mais agudo que o Gibson 57 Classic. Talvez mais próximo ao Gibson Burstbucker 2. No que diz respeito ao 59 Model, o Realbucker é articulado tal qual o referido, porém apresenta mais presença.

O HH777 Hellbucker (ponte) não discrimina muito o tipo de construção na questão da interação com os elementos do instrumento. Seja uma Les Paul ou uma Stratocaster - é perfeitamente possível notar as características de cada guitarra adicionadas às características tonais do pickup. Já o Realbucker, a questão interativa é mais perceptível porque se trata de um captador de braço posicionado numa região de maior vibração das cordas e próxima a escala do instrumento.

É possível notar diferenças entre uma PRS e uma Les Paul, assim como numa stratocaster tradicional como numa guitarra tipo Jackson ou Ibanez. Muito mais ainda entre uma Stratocaster e uma Les Paul. Particularmente, gosto do Realbucker nas Stratocasters, mas nas Les Paul ainda sobram graves.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Se o alemão aí falou...















E sem os humbuckers, como faríamos o rock sem ruídos?


A caricatura veio do site do grande Bill Lawrence.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Seymour Duncan Parallel Axis Trembucker - PATB1


Esse foi um dos primeiros bons captadores que eu tive na minha vida - e tocar com ele me traz lembranças muito legais de quando eu estava batendo cabeça com minhas primeiras experiências com eletrônica de guitarra.

O visual do captador é muito legal: ao invés de 12 pólos, ele tem 24 lâminas paralelas. Portanto, você tem 4 lâminas “cercando” cada corda ao invés de dois pólos jogando atração magnética diretamente sobre ela. A Duncan afirma que a disposição dessas lâminas faz com o a corda vibre de maneira mais natural e que a captação do som aconteça de maneira mais detalhada. O resultado disso, segundo o fabricante, é um sustain maior e um timbre único, descrito no catálogo como “hi-fi”.

Averigüar o sustain de um captador é coisa complicada pra mim, pois sempre toco muito alto, com drive e com pouco ou nenhum noise gate – coisas que sempre aumentam o sustain. Então não tenho como avaliar precisamente se um captador favorece a sustentação das notas – exceto em casos em que o captador mata demais o sustain, como o Invader.

Por favor, não estou nem um pouco interessado na velha e chata polêmica do “Dimarzio timbra artificial e Duncan é mais vintage”. Isso não vem ao caso e não leva a nada. O fato é que, sim, a maioria dos captadores da Duncan soam um pouco mais “orgânicos” e a maioria dos Dimarzio são um pouco artificiais, mas o fato é que Steve Blucher e Larry Dimarzio focam seus esforços em oferecer um determinado tipo de som, enquanto Seymour Duncan e sua equipe têm produtos claramente inspirados nos Gibson, portanto perseguem outra timbragem. Veja que enquanto a Dimarzio oferece ótimas reedições dos antigos PAF e grandes singles vintage, a Seymour também oferece captadores de som mais moderno – como nosso amigo PATB aqui – o que pelo menos diminui com a polêmica acima descrita.

Mas como o que mais me importa é o timbre, saiba que o PATB me faz uma criança feliz. Ele é um Duncan que não persegue um som baseado em coisas vintage: nada de “organicidade” aqui. O foco desse captador é um som realmente um pouco sintético, com médios discretos e um timbre que, assim como o Fred (olha o som Dimarzio aí...), articula as notas de maneira diferente à medida em que você injeta ganho no som e é aí que está uma grande característica do PATB: ele foi um captador orientado para sons de alto ganho e os metaleiros o adoram (Kiko Loureiro usa o captador, assim como Richard Patrick, do Filter), mas ao contrário da maioria dos captadores orientados para metal, o PATB não soa murcho com níveis modestos de ganho. Pelo contrário. Ele soa muito consistente se você resolver usá-lo na sua banda de pop-rock. Enquanto o Fred fica cada vez mais pontiagudo à medida em que se aumenta o ganho, o PATB fica mais tangível, os feedbacks são controláveis, a distorção se torna cada vez mais agradável aos meus ouvidos e o sustain fica mais doce e cantante. Ele nunca vai soar pontiagudo, power chords violentos soam extremamente consistentes e você vai dar risada quando tocar riffs do Sabbath – os bicordes sinistros do mestre Iommy tocados com o PATB soam como se a tônica e a quinta fossem um só bloco sonoro sólido feito um tijolo.

Se você toca com afinações graves e/ou dropadas, vai adorar o PATB, pois seus médios mais sequinhos fazem a festa de quem desce o mizão e ajuda seu som a ter uma distorção agressiva e sem ser podre.

Não é todo dia que a gente encontra um captador com tantas qualidades e que soa tão bem em tantas situações timbrísticas. Minha única reclamação é, na verdade, uma solicitação: seria ótimo que o conceito de lâminas paralelas e timbre único fosse expandido a captadores de ponte para guitarras de ponte fixa – lembre-se de que o PATB é feito para guitarras com ponte Floyd, com espaçamento maior. Se você colocar um deles numa Les Paul você terá problemas de captação nas cordas mi. É uma pena. Esse timbre ia arrasar numa Les Paul. Se você usa guitarras com Floyd e quer detonar, vá pelo seu amigo aqui: o PATB é um captador muito especial.

- Preferi usá-lo para: riffs de metal industrial ou qualquer outra coisa que não precise de timbres "orgânicos", bem como afinações graves e/ou dropadas.

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que "organicidade" não faz falta quando você quer devastar o planeta com um grande timbre.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Captador Clássico: Seymour Duncan JB (SH-4)


O velho Seymour Duncan conta uma história muito interessante: ele quis fazer uma guitarra para Jeff Beck nos anos 70 depois que a Les Paul que Jeff havia tocado no álbum Truth fora roubada. Jeff ainda não havia feito a transição para as Fender, então Seymour pegou uma velha Telecaster, tirou sua escala de maple e colocou uma escala bem grossa de jacarandá. Ele colocou trastes Gibson. Sua intenção era fazer um braço parecido com o braço gordo da Les Paul de Jeff. A eletrônica era comum, exceto pelos captadores: Seymour tirou os PAF quebrados de uma Flying V que era do bluesman Lonnie Mack e os enrolou a mão. Ele quis fazer um captador de ponte com bobinas simétricas e saída mais alta, mas com o imã alnico do PAF. O resultado foi um captador de saída em milivolts alta, que alcançava uma faixa de médios ampla e que gritava com agudos berrantes se colocado numa guitarra muito aguda – esse é, até hoje e com poucas alterações, o Seymour Duncan JB. A sigla JB quer dizer Jeff Beck. O captador não se chama Jeff Beck por razões contratuais com o velho Jeff e não sei a razão disso. Para todos os fins eles passaram a dizer depois que JB quer dizer Jazz & Blues, o que é uma tremenda besteira.

Ao longo desses anos eu tive vários captadores desse modelo. Já devo ter instalado em uma dúzia de guitarras que eu tive e numas 25 guitarras de clientes – afinal, o JB é a primeira opção de upgrade das guitarras de 70% dos roqueiros. O principal motivo da popularidade do JB é o marketing que foi feito sobre ele – embora hoje a Duncan pareça concentrar seus esforços de marketing em popularizar sua linha de pedais.

Uma das coisas que aprendi sobre esse captador é que os resultados dependem muito da combinação com a guitarra. Claro que todos os captadores são assim, mas qualquer captador que tenha alguma freqüência exagerada vai depender da guitarra, do amp e do guitarrista para equilibrar isso.

No caso do JB, saiba que os graves podem desaparecer se você colocá-lo numa guitarra que timbre muito rachadiça. E saiba também que você vai ter uma estranha ponta de agudos. É como se o JB não fosse propriamente um captador com muitos agudos, mas há uma pequena faixa específica em que ele fala muito alto - alto demais e esse é o problema pra mim. Pode ser que você goste dessa faixa exagerada ou que você tenha uma guitarra e um amp que suavizem isso, mas nunca consegui me livrar dessa pontinha de agudos cortantes.

Outra coisa que você terá em abundância são os médios. Amigos, não são quaisquer médios. É um PAREDÂO de médios. Posso estar errado e ficando surdo, mas escuto o som do JB como se a faixa de médios fosse ampla e alta, muito alta.

Os resultados dessa massa sonora sempre foram complicados nos meus ouvidos. Eu sempre gostei de ouvir outros guitarristas com JB e isso é que é o estranho. Pode ter certeza que o JB estava em alguns dos melhores sons de guitarra que você já ouviu – de Marty Friedman a Paul Stanley, para não falar do cara que é pra mim o Santo Graal do timbre: Michael Schenker. Os melhores resultados que já obtive com o JB não foram com guitarras minhas. Um deles foi numa Epiphone Les Paul Custom de um cliente. Nela a famigerada pontinha de agudos pareceu ser domada e os graves marcaram mais presença. Os médios continuavam lá, mas me pareceram estruturar o ganho de maneira mais redonda. A outra guitarra em que o JB falou muitíssimo bem foi numa ESP Kirk Hammet de um cliente que não estava mais satisfeito com o som dos EMG originais. Eu tenho que admitir que o som dessa guitarra ficou simplesmente absurdo.

Mas o fato é que eu percebo no JB mais do que eu qualquer outro Duncan o “DNA” da Seymour Duncan, que me parece muito derivado do “DNA” Gibson, com aqueles agudos “crocantes”, granulados. Nos meus ouvidos é como se a faixa mais aguda do som tivesse uma ardência “pipocante”. Desculpe se a descrição parece muito vaga, mas é difícil descrever isso. Como os captadores Gibson são quase sempre instalados em guitarras Gibson, as pessoas têm dificuldades em perceber ardência ou a granulação. Essa característica dos Duncan me incomoda muito em certas guitarras. E o JB – que além disso tem aqueles agudos cortantes e os médios que atravessam qualquer coisa – acabou sendo um captador quase maldito pra mim. Eu tenho 3 JB na minha coleção. Um deles tem nickel cover e coloquei-o na ponte da minha Santana SE há um tempo atrás. Os resultados de equalização foram legais, mas a maneira como o ganho dos agudos do JB se estrutura continuou me incomodando e preferi pôr o Seth Lover dela de volta no lugar.

Ora, mas é claro que devemos levar em consideração que essas características que me incomodam talvez sejam justamente as que você está precisando pra bombar o seu timbre! Quer fazer com que seus médios apareçam no meio da sua banda com mais clareza e força? Quer tirar o velho PAF da ponte da sua Les Paul para colocar um captador com saída mais alta? Quer que seus agudos fiquem mais cortantes para que o público ouça melhor seus tappings e legatos? Está cansado da distorção lisa dos Dimarzio? O JB na ponte pode ser a solução pra você.

A propósito: lembram daquela Tele que o velho Duncan reformou? Jeff usou-a em Cause We’ve Ended As Lovers. Para bom entendedor…

- Preferi usá-lo para: instalar nas guitarras dos clientes e vê-los satisfeitos.

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que quero ouvir Michael Schenker pelo resto da minha vida, mas os três JB da minha coleção estão guardados numa gaveta.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Dimarzio Fred (DP 153)

Esse é um captador engraçado. Segundo o site da própria Dimarzio, ele nasceu de uma experiência que deu errado. Tudo aconteceu quando eles tentaram criar um captador que fosse irmão PAF Pro, mas com um pouco mais de médios. Ao enviar o captador para Joe Satriani, este percebeu características únicas no captador: ele não ficava cada vez mais gordo ao acrescentar distorção e volume (como acontece com a maioria dos humbuckers), mas sim ficava cada vez mais cortante e os harmônicos pipocavam do instrumento com facilidade. Pronto, nasceu o Fred – o principal captador de ponte de Joe por muitos anos.

O Fred padece de uma maldição parecida com a do JB: as características dele que são amadas por muitos são exatamente as características que os outros detestam - embora sejam captadores totalmente diferentes.


Instalado na minha Teleblaster #2 (com corpo de cedro, braço de marfim, escala de ipê, ponte Kahler e cordas 0.11), o Fred confirmou tudo o que se dizia sobre ele: ganho igual ao do PAF Pro, agudos cortantes e um som cheio de harmônicos e geração fácil e controlável de feedback. Não consegui extrair dele timbres massacrantes de bases com aquela mordida tipo Metallica – os graves e médio-graves dele são contidos e difusos demais pra isso. É muito estranho, mas é como se ele não gerasse consistência na montagem de bicordes massacrantes. Portanto o Fred não é um captador que eu indicaria para sua banda cover do Black Sabbath.

Vamos às particularidades que eu gostei: você ouve os médios desse captador facilmente - não por serem exagerados, mas por serem muito consistentes. Não sei bem como explicar isso, mas é como se os médios dele fossem “sólidos” no meio do som. Achei isso muito legal. Os agudos são cortantes, mas não são exatamente estridentes. Essas duas faixas de freqüência do Fred são justamente o que poderiam te ajudar a ser ouvido no meio de uma banda barulhenta. E se você for o único guitarrista da banda, tenha certeza que essas freqüências vão estar bem preenchidas. Como os médios são firmes e os agudos atravessam uma banda feito uma flecha, tenha certeza de que o Fred valoriza muito técnicas de ligaduras loucas no estilo de Alan Holdsworth.

Tentei timbrar o captador para estilos amenos como Rolling Stones. O som ficou interessante, mas acho que é um pouco complicado fazer isso com o Fred por ser um captador de saída alta demais para sons de blues-rock. Mas verdade seja dita: ele responde muito bem às dinâmicas de palhetada e alterações no botão de volume. Instalado na posição do braço o timbre ficou bonito, mas eu prefiro captadores com timbres mais brilhantes para o braço.
Me bateu uma tremenda vontade de testar o Fred numa boa Les Paul, mas não pude fazer isso até hoje. Talvez assim os graves ficassem um pouco mais esponjosos e os agudos ficassem mais contidos.

O fato é que equipe da Dimarzio atirou no que viu e acertou no que não viu: tentou injetar médios num captador e acabou gerando um monstrinho que recomendo enfaticamente para um guitarrista de estilo fusion que abuse de legatos e não tenha interesse por power chords esmagadores. Fred foi é fruto de um erro q deu muito certo.
Não é à toa que Joe usou e abusou desse captador por tantos anos, pois o Fred se encaixa perfeitamente ao estilo do careca da Ibanez cromada.

- Preferi usá-lo para: fusion, fusion, fusion!!!

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: percebi o quanto Joe deve ter ficado feliz por ter encontrado um captador que valorizasse tanto o estilo dele.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Seymour Duncan Full Shred (TB-10)


Muita calma nessa hora. Vamos como o estripador londrino - por partes. O site da Seymour diz: “timbre de alta saída para ritmos pesados e riffs velozes. Usado para rock clássico, rock pesado, hip hop, fusion e técnicas agressivas de solo. (...) Oferece controle timbrístico em situações de alto ganho. Menos agressivo que o Duncan Distortion, mais articualdo que o Duncan Custom”.

Esse é um bom começo para descrever o FS. O problema é que essa descrição (a começar pelo nome do captador) sugere que o metal técnico é a única aplicação do captador. Isso é meia verdade. Fiz 3 shows com a minha finada banda de rock’n roll (tocávamos covers de David Bowie, Kinks, Clash e músicas próprias baseadas nesses estilos) com o FS instalado na minha Frankenstrat #1 e os resultados foram muito, muito consistentes e rockers. Mesmo com o ganho estilo AC/CD, bastava recuar um pouco o botão de volume que o timbre ficava satisfatório para tocar Suffragette City (embora deva dizer que uso capacitores de 330 pf no botão de volume com potenciômetro linear, o que ajuda muito). O fato é que o timbre ficava carnudo e dava vontade de descer a mão na guitarra sem um pingo de dó.

O visual do captador é muito invocado: diferenciado por ter todos os pólos de parafuso alen. Ele tem cara de malvado, embora não tenha a cara de tanque de guerra do Invader.

Testei-o em TODAS as minhas guitarras e em nenhuma sequer o timbre ficou menos do que ótimo. Ele responde maravilhosamente às dinâmicas de palhetada e aos controles da guitarra. Entretanto, devo confessar que é com o drive no talo que o FS mostra a cara de verdade. É natural que se faça comparações entre ele e o JB. Mas é aí que entram as pequenas diferenças que podem influenciar você na hora da compra. Eu posso apontar algumas diferenças que podem ajudar:

1- O FS tem médios mais contidos, enquanto que o JB tem aquele paredão de médios que atingem o ouvinte como uma tijolada na orelha. Eu arrisco dizer que os dois têm a saída em milivolts praticamente igual, mas o FS tem um drive mais polido justamente por ter médios não tão esporrentos – mas embora ele não tenha o punch brutamontes do Distortion, os power chords com ele são muito, muito carnudos. Mas talvez exatamente por essa falta de médios, ele apresentou menos notas sustentadas por feedback do que outros humbuckers;

2- Os agudos do FS são mais polidos e redondos, mas que aparecem muito facilmente no meio da sua banda. De qualquer maneira, acho difícil que você recorra ao botão de tone pra alguma coisa com o FS;

3- E eis a característica que mais gostei: como sugere a descrição da Seymour, o FS valoriza muito as técnicas acrobáticas na guitarra - tenha certeza que seus tappings, sweeps, palhetadas-metralhadoras, legatos, duplo twist carpado e contorcionismos aparecem com muita facilidade. Comprei há um mês uma ESP Horizon e ela veio com JB. O JB soa muito bem, mas eu sabia que a guitarra poderia soar melhor. Tentei o Tone Zone, mas percebi que a Horizon timbra macia, então resolvi instalar, um captador que fosse mais cortante, mas não tão esporrento quanto o JB. Um chiclete Ploc Gigante pra quem adivinhar o que eu fiz! Instalei o FS e confesso: minhas palhetadas nunca pareceram tão claras, as notas nunca pareceram tão articuladas e nunca tive um tive de alto ganho tão consistente e com ganho na medida que eu prefiro.

A diversão é garantida e suas notas vão ter uma articulação muito mais natural e redonda. O Full Shred parece ter sido feito para facilitar a vida dos guitarristas de quase todos os estilos. Guitarras feitas com madeiras macias vão agradecer pela instalação do FS. Nunca casei tão perfeitamente um captador com uma guitarra como o FS com a ESP. Para minhas preferências de timbre e articulação, o FS tira 10 com louvor.

- Modelo testado: trembucker

- Preferi usá-lo para: qualquer overdrive carnudo e polido de médio ou alto ganho; técnicas acrobáticas.


- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que Seth Lover deve dar uma gargalhada de alegria no seu túmulo a cada power chord da minha ESP.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Captador Clássico: Dimarzio Super Distortion (DP100)


Nada mais justo do que começar minhas atividades com a publicação das minhas impressões sobre um clássico. A Dimarzio foi a primeira empresa a lançar captadores avulsos e propor personalização de timbres. No meio dos anos 70, quando foi lançado, o SD abriu os horizontes para a confecção de timbres extremos, pois foi o primeiro captador de potência altíssima lançado. Logo de cara ele começou a ser usado por muita gente famosa – como John Abercrombie e Al Di Meola, o imperador da Les Paul. No começo, ele se chamava Dual Sound e trazia 3 condutores, onde podia apenas ser ligado como humbucker e splitado. A versão posterior, com 4 condutores, traz outras possibilidades de timbre.

O SD é um captador meio maldito no Brasil. Isso acontece por vários fatores: o próprio nome do captador causa arrepios em pessoas que gostam de timbres mais amenos. Outro fator curioso é que muita gente detesta os sons daquelas guitarras dos anos 80 – e muitas delas vinham com o SD de fábrica. Essas pessoas talvez não lembram de como aquelas guitarras dos anos 80 eram péssimas – com aquelas tranqueiras de alavancas tipo Floyd Rose feitas de materiais duvidosos e madeiras meia-boca – e talvez não lembrem também que Al Di Meola tinha os timbres de Les Paul mais gordos e polidos do universo (ouça o cd ao vivo Tour De Force), que Abercrombie é um jazzista e Ace Frehley tem ótimo timbre de rock’n roll.

Coloquei o SD na minha Teleblaster (tele com dois humbuckers feita de freijó e braço de marfim) e na minha Frankenstrat (feita com partes de várias guitarras). Ambas têm ponte Kahler e cordas 0.11. Na tele os timbres foram ótimos. Uma completa surpresa pra mim, que sempre fui desconfiado com esse captador e nunca fui com a cara de captadores de imã cerâmico.

O que eu descobri com o SD e outros captadores Dimarzio é que eles podem ser extremamente articulados no que tange a técnicas de palhetada mais extremas. Explico: sempre fiquei muito impressionado ao ver e ouvir o Paul Gilbert com suas palhetadas insanas usando sempre o captador da ponte - sem nunca partir para o revezamento frenético entre captadores como fazem Steve Morse e Malmsteen. Gilbert é sempre limpo e articulado, sem que as notas pareçam “mascadas” por palhetar rápido usando sempre o pickup da ponte. Se sua técnica de palhetada estiver em dia e você abafar devidamente as cordas que não estiver tocando, o SD te brinda com uma articulação legal e agressiva.

O som em ganho médio tem que ser bem trabalhado – qualquer ganho a mais faz com que você entre na área do metal. Ao contrário do que eu imaginava, o overdrive é bonito e redondo, mas talvez em guitarras que timbrem mais rachadiças o timbre fique muito metalizado e estridente – nessas horas faz bem à saúde ter um controle tone para o captador da ponte. O overdrive tem a textura tipicamente “lisa” dos Dimarzio, diferente das texturas granuladas e crocantes dos Seymour.

Na strato ele ficou melhor ainda. Nela eu pude explorar outros timbres devido à chavinha de três posições que eu instalei para ligar o captador em série, paralelo e single coil. Muito legal! Sons de ganho médio com o pickup em paralelo soaram ótimos e a diversão é garantida para quem não quer tocar Anthrax. Em single o som é bem convincente, mas o ruído me é insuportável.

Com 425 milivolts de saída, o SD brilha com facilidade em estilos mais extremos – de Dio a Metallica você vai se sentir em casa (embora eu não o usaria em casos de ganho extremo como Napalm Death). O SD soa agressivo e cheio, mas não soa “podrão”. Se você ligar em paralelo, vai poder tocar com ele na sua banda de covers do AC/DC (segundo o site da Dimarzio, o Paul Gilbert usava dois SD em paralelo na época antiga do Racer X. Esse pickup não tem nenhuma freqüência sobrando e harmônicos de palheta saem facilmente. Ele não está nos meus Top 5, mas está nos Top 10.


Preferi usá-lo para: riffs do Metallica e palhetadas insanas.

O que me vem à cabeça quando lembro do timbres que ouvi: que as pessoas testaram o captador em guitarras muito ruins. O SD é injustiçado.

Entrando na Zona do Humbucker!

Este blog está nascendo da minha necessidade de compartilhar com outros guitarristas os quase dez anos de experiência em eletrônica de guitarra. Vou tentar explanar sobre alterações e características de todo a eletrônica da guitarra, mas o que vai predominar aqui é a publicação das características principais de alguns humbuckers disponíveis no mercado aos quais eu tiver acesso – além, é claro, das minhas impressões sobre eles. Escolhi os captadores humbucker justamente pela sua proposta de eliminar o que há de mais nefasto no nosso instrumento: o ruído. Não cabe a mim dizer se um humbucker é bom ou ruim. Não posso fazer isso. Como vocês poderão perceber, alguns humbuckers não serão do meu agrado – considerando o que eu toco ou o meu timbre - mas serão indicados para outras pessoas ou para outras aplicações.

Acho que parte do meu trabalho será o de esclarecer as pessoas interessadas nesses fascinantes geradores de som e eliminar lendas e mal-entendidos. Para tanto, precisamos levar em consideração as zilhões de informações disponíveis, analizar resultados, corrigir desvios, esclarecer mal-entendidos e levar até vocês as informações de maneira mais confiável.

Não vou ocupar o tempo e vocês com explanações sobre o que é uma resistência DC, o que é o imã e quais os seus tipos ou que são as possíveis ligações dos captadores. Sites como o do grande Bill Lawrence têm informações bem legais e detalhadas sobre isso.

Vamos começar por algo bem simples: cada fabricante de captadores fornece em seus catálogos e sites as características de cada captador. Alguns são mais completos, como a Dimarzio e a Seymour Duncan. Outros são um desastre e não fornecem muita coisa além de descrições bem breves, como a EMG. Fabricantes como a Bartolini não fornecem nem fotos e têm sites que parecem ter sido feitos por uma criança. Não quero que isso pareça um xingamento, mas sim uma solicitação por mais informações sobre seus produtos.

Usemos os exemplos mais completos. A Seymour e a Dimarzio têm em comum o fornecimento de dados como resistência DC, fotos do produto, equalização do captador, tipo de imã, ligações possíveis e uma descrição das características do produto. Todas as informações são úteis, mas há duas coisas serem levadas em conta: a Duncan fornece o pico de ressonância (ressonant peak), a Dimarzio fornece a saída em milivots do captador e as diferenças entre as equalizações fornecidas pelas duas empresas.

Comecemos pela questão das equalizações. O modelo Duncan JB, por exemplo, apresenta, segundo o catálogo, 5 de graves, 6 de médios e 8 de agudos. O modelo Dimarzio Tone Zone apresenta 5 de agudos, 8,5 de médios e 8,5 de graves. A impressão imediata é a de que o Tone Zone tem muito grave de nenhum agudo e que soaria apagado se comparado ao JB.

Essa confusão é antiga. Isso acontece pelos referenciais dos fabricantes, que são diferentes. A Duncan fornece a equalização aproximada do captador quando instalado na sua posição indicada – no caso do JB, a ponte. A Dimarzio fornece a equalização “natural” do captador, não dependendo de onde ele é instalado. Lembre-se de que o Tone Zone é um captador indicado para a ponte, portanto vai captar freqüências bem agudas. Sendo assim, considere que a falta de agudos constatada na tabela fornecida vai ser compensada pelo posicionamento do captador. Portanto, o Tone Zone não tem nada de abafado, embora você possa ter certeza de que ele é entupido de médios.

De qualquer maneira, seria bem legal se os fabricantes entrassem num acordo e unificassem os referenciais, não é?

A Seymour fornece o pico de ressonância dos seus produtos. Esse pico indica em qual faixa da freqüência o captador alcança seu maior volume – em que ponto do espectro sonoro ele tem mais volume. Isso é muito importante na compreensão do timbre dos Seymour. Veja o Invader de ponte: ele tem agudos relativamente contidos, mas tem o seu pico de ressonância da faixa dos 5 KHz, o que faz com que ele fale mais alto numa freqüência relativamente alta, ou seja: ele não é um captador de timbre opaco. Captadores de braço têm um pico mais alto ainda -por captarem numa região mais grave das cordas, eles precisam falar mais alto numa faixa mais alta para poderem obter clareza no timbre.

Por fim, algo que eu adoro: a Dimarzio e sua indicação de saída em milivots. Mas antes, lembra do seu carrinho de controle remoto? Ele era movido a pilhas, certo? Ele tinha um motorzinho que transformava a energia elétrica das pilhas em energia mecânica (que tracionava as rodas do carrinho). Portanto, o motor é um transdutor de energia: transforma a energia elétrica em energia mecânica. O captador da guitarra também é um transdutor: transforma energia mecânica das cordas da guiarra em energia elétrica. Ou seja: o captador é um motor ao contrário.

Um inofensivo single coil vintage tem cerca de 90 a 100 milivots (um milivot é a milésima parte de um volt). O brutal Dimarzio X2N tem cerca de 525 milivolts e o clássico Super Distortion tem 425. Portanto, a saída em milivots te dá uma idéia da potência da saída do captador.

Pois bem, conscientes destes pontos, poderemos trocar idéias sobre os captadores, especificamente os de bobina dupla. O espaço está aberto a perguntas e comentários e meu e-mail estará disponível, bem como o telefone da loja na qual desenvolvo minhas atividades. Espero que todos nós tenhamos boas trocas de informações.

Abraço a todos. Matem o hum,

Rafael Gomes