segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sobre captadores na posição central

Companheiros,

No último post eu notei que algumas pessoas usaram a sessão de comentários pra fazer perguntas e colocações sobre captadores da posição central. Eu já perdi a conta de quantas pessoas me perguntaram isso aqui no blog, no orkut e por e-mail. Eu acho esse assunto bastante sério e resolvi fazer um post pra gente trocar idéias sobre isso.

Antes de falar de captador do meio, vamos aos captadores das pontas. Tem gente que gosta de colocar captadores de ponte e braço de ganho alto. Tem gente que gosta de ganho alto na ponte, mas prefere ganho vintage no braço. Mas tem gente que prefere ter single coils de saída baixa. Isso é questão de estilo, é claro.

Por que raios eu tô falando dos captadores das pontas? Por um motivo simples: as diversas “escolas” de uso do captador do meio dependem diretamente dos outros captadores. Vamos falar dessas “escolas”:

1- a escola Steve Vai: é o velho H-S-H. O single no meio em geral é um single real e não um humbucker em tamanho single. Esse grupo não usa o captador do meio sozinho – eles sempre usam o do meio junto com algum outro. Eles usam um single real no meio por preferirem a fiação que liga apenas uma das bobinas dos humbuckers junto com o single do meio. Os captadores são arranjados de forma que o single e a bobina que é ativada do humbucker fiquem em paralelo e RW/RP uma em relação à outra. Isso oferece um timbre sem ruídos, limpo e nítido, mais adequado a dedilhados limpos e acordes. Nessa fiação, a única posição da chave que gera hum é o single sozinho. Resumindo: na escola Steve Vai, o single do meio serve pra oferecer um timbre mais limpo a uma guitarra que geralmente tem humbuckers de ganho muito alto nas pontas. É nítida a diferença de volume quando o single do meio é acionado. Isso acontece pela diferença de ganho entre o single e os outros dois captadores. Mas isso é realmente a intenção.


Há pessoas que usam um stack ou humbucker em tamanho single de baixo ganho no meio. Eles preferem misturar os timbres, sem cancelar bobinas. Aqui também o intuito é ter timbres limpos mesmo tendo captadores de ganho alto nas pontas.

2- A escola Juninho Afram: é um H-H-H. Usei o Juninho como referência por saber que ele usa captadores de ganho alto no meio. Essa escola não quer saber de timbres limpos na guitarra. É pancada em todas as posições – exceto nas posições intermediárias, quando os captadores ficam em paralelo, ou seja: o ganho dos dois é somado e dividido por dois. Mesmo assim não há um timbre verdadeiramente limpo (no sentido de cristalino Fender) na guitarra, a não ser que haja algum push-pull pra cancelar bobinas. A intenção no H-H-H é não haver muita diferença de ganho entre os captadores. Alguns instrumentos H-H-H notáveis: a Les Paul Peter Frampton, Les Paul Ace Frehley e a lindíssima PRS Chris Henderson;

3- A escola dos timbres magros: representados por estilos muito diversos como funk, banda Calipso, country, pop e o diabo a quatro. Em geral são 3 captadores de ganho baixo (singles reais, stack ou humbuckers em tamanho single de baixo ganho). Eles misturam os captadores com o real intuito de obterem timbres mais magros, ocos, de ganho baixo e com o velho “quack” tipo Fender. Ouça o Mark Knopfler, Nile Rogers, Chimbinha e John Frusciante e vocês vão entender.

(Rapaz, só mesmo nesse blog pro Chimbinha aparecer como referência de timbre. E junto com o Mark Knopfler!!! Tem coisas que só acontecem no Zona do Humbucker...)

4- A escola SRV: pra quem não sabe, a chave de 5 posições é “novidade”. Ela só surgiu em 1977. Até então, só havia 3 posições na strato. Alguns blueseiros usavam e usam muito o captador do meio sozinho. Eric Clapton usa às vezes. Buddy Guy também. Uma informação pra quem não sabe: o riff de Pride and Joy é pra ser tocado com o captador do meio. Por isso eu chamei de “escola SRV”;

5- A escola Blackmore: Malmsteen também é dessa escola. Observem fotos ampliadas do Malmsteen e do Ritchie e percebam que eles afastam o captador do meio das cordas. Pros caras dessa escola o captador do meio não serve pra nada. Eles usam só os das pontas. Bem, quase todas as Gibson também só têm 2 captadores, o que os coloca nesse time. Os imãs expostos do captador da strato são de alnico V, que têm uma atração magnética relativamente forte. Pense comigo: um dos fatores que atrapalha o sustain da strato é que ela tem 3 pólos de alnico jogando força em cada corda, atrapalhando o sustain. Se você elimina o captador do meio, você tem mais sustain na guitarra. Outro argumento dos que não usam captador do meio é que a palheta fica raspando nos pólos do captador.

Pronto, eis as possibilidades. Qual é a sua necessidade? Timbres magros pra funk? Você usa captadores de ganho alto e quer ter um timbre um pouco mais limpo sem trocar de guitarra? Está insatisfeito com a diferença de volumes entre os captadores?

Você só precisa se perguntar algumas coisas. Imagine que você tem um par de Evolution na sua guitarra. Você tem certeza que precisa mesmo de um terceiro captador de ganho alto? Pergunto isso por já ter usado captadores de ganho alto no meio. Olha, você acha mesmo que há uma grande diferença entre o som de um Litlle 59 no braço e no meio? Eu não uso mais captador no meio. Sou da escola Blackmore de carteirinha. Eu só coloco captador do meio na guitarra se for pra ter um timbre realmente diferente. Portanto, de todas as escolas, a H-H-H é a que faz menos sentido pra mim. Mas lembre-se: isso é questão pessoal e você deve ir atrás do seu timbre.

Então vamos às dúvidas que surgiram no orkut, por e-mails e aqui no blog:

Você tem humbuckers de ganho alto q quer ter um timbre limpo digno na gutiarra? Você pode colocar algum single verdadeiro no meio e fazer a fiação que cancela uma bobina de cada humbucker da ponte. Pra isso você precisa ter certeza que vai comprar um single que seja RW/RP em relação aos humbuckers e pedir pro seu luthier fazer a fiação. Pra isso você tem toda a linha de singles reais dos fabricantes: os Duncan Five-Two, Vintage Staggered, Alnico II Pro, um caminhão de Fender, os Rosar True Vintage e Vintage Hot. Esses são os mesmos que você deve experimentar se quiser os timbres pra country, blues, pop ou funk. Há muitos modelos disponíveis.

Outra possibilidade é colocar um bom stack ou humbucker em tamanho single de ganho baixo e instalar o captador sem arranjos especiais na fiação. Aí nos temos Duncan Duckbucker, STK-S1, STK-S4, Dimarizio Virtual Vintage e a linha Área, Cruiser, os ótimos stacks da Tom Anderson ou os Rosar Strat Tone.

Se você tem humbuckers de ganho alto e quer um captador no meio de ganho alto, experimente o JB Jr. neck, Litlle 59 neck, Cool Rails neck, Fast Track 1, Rosar King Mid neck, Extreme Hot neck, Screaming Distortion ou Twin Vintage neck. É também um caminhão de alternativas.

Estou à disposição pra tirar as dúvidas. Abraço!


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sérgio Rosar Extreme Hot


Todo mundo que acompanha o Zona já está sabendo que eu estou trabalhando com o Sérgio Rosar no desenvolvimento de captadores de guitarra. Tem sido um trabalho maravilhoso, gratificante e divertido. No nosso trabalho eu encontrei 3 categorias de captadores: modelos novos sendo desenvolvidos, modelos antigos passando por pequenas modificações e modelos antigos que já nasceram tão legais que não havia nada mais a modificar.

O captador que quero apresentar a vocês hoje pertence à terceira categoria. O Extreme Hot faz parte da linha Dual Blade (humbuckers em tamanho de single com lâminas). Essa linha conta com 5 modelos: Strat Tone, Twin Vintage, Screaming Distortion, King Mid e o Extreme Hot. A timbragem é variada e temos desde um som típico de strato (Strat Tone) até a brutalidade metaleira (Extreme Hot). Ou seja: tem som pra todo mundo.

Eu estava bem curioso em testar o captador – desde que eu havia comprado o Tone Zone S que eu não testava nenhum outro humbucker em tamanho single de ganho alto – e vocês sabem que eu ainda não me recuperei do trauma dos humbuckers em tamanho single da Seymour. E foi aí que eu quase chorei ao tocar com o Extreme pela primeira vez: eu achei parecido com o Hot Rails. Toquei um pouquinho e encostei a guitarra. Mandei um e-mail pro Sérgio quase chorando de tristeza e ele me respondeu dizendo pra eu tocar mais com o captador. Ele estava certo. Demorou quase uma semana pra cair a ficha, mas depois de um tempo eu comecei a entender a idéia do Extreme. Bem, a idéia fundamental do Hot Rails é: um humbucker em tamanho single bastante enrolado, com imã cerâmico e duas lâminas resultando num timbre de ganho alto, anasalado, pouco alcance dinâmico, com graves e agudos sem profundidade. A idéia do Sérgio foi partir dessa plataforma básica e experimentar com outra pressão e dispersão do fio e alterar a distância entre as lâminas. O resultado disso é um captador muuuuito marrento, abusado, com um punch destruidor, alcance dinâmico mais extenso, com graves mais profundos e presentes e um pouco mais de brilho que o Hot Rails.

Se você toca rock’n roll ou pop talvez possa se beneficiar um aumento de ganho oferecido por este captador, mas é claro que ele foi feito pra hard rock e metal pesado. Riffs abafados com power chords ficam com peso de uma bigorna e com definição impressionante. Você vai encontrar no Extreme Hot os médios anasalados do Hot Rails, que parecem ser restritos a uma faixa específica (a própria curva tonal do Extreme Hot fornecida a mim pelo Sérgio sugere uma distorção angular). Acontece que amplitude do timbre é muito maior graças às pontas da equalização mais abertas e presentes.

Eu já falei isso em outro post, mas vou relembrar: os Rosar são fabricados à mão pelo mestre Rosar e usando materiais made in Brasil (nada de material ou mão de obra importadas na Rosar Pickups). Você vai ter garantia, preço muito atraente, acabamento ótimo e os Dual Blade têm 3 opções de cores: preto, branco e zebra. O meu é branco. Lindo.

Um amigo meu e grande professor chamado Pilho gravou uma música chamada Frente e Verso usando a combinação Extreme Hot na ponte e o Twin Vintage no braço na sua Washburn strato. Essa música é a prova de que esses captadores soam muito bem no contexto do rock tecnicamente ambicioso. Vocês podem ouvir a música em www.myspace.com/pilhotrix

Tenha em mente que este é um captador específico. Não espere que sua strato permaneça com timbres típicos de strato com o Exteme Hot. Quem coloca este captador não quer o timbre do David Gilmour. Se você quer rolar o hard rock e metal com sua strato esse é o captador perfeito pra você.

Com seu pico de ressonância em 4,6kHz ele nunca vai ficar agudo demais. Esse captador tem 340mV de saída e é provável que ele seja o humbucker em tamanho single de maior ganho disponível no mercado atual. Acontece que a timbragem do captador realmente sugere que ele tem muito mais ganho.


- Preferi usá-lo para: sons de ganho muito alto para hard rock e metal

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que vc pode buscar os médios anasalados do Hot Rails e se dar ao luxo de abrir as pontas da equalização.