
Meu preconceito com captação ativa vem de ouvir todo mundo que a usa e não gostar do som – com a honrosa exceção do David Gilmour. EMG acabou sendo a referência em captação ativa no mundo todo. Reconheço e aplaudo de pé todas as suas vantagens dos ativos: ruído baixíssimo, baixa impedância (que permite o uso de cabos longos ou pedais sem bypass total) e a não necessidade do aterramento da ponte (que te livra de eventuais choques no caso de algum vazamento de corrente ou curto-circuito no equipamento). Captadores ativos teriam impedido o horroroso acidente com um guitarrista fortalezense chamado Davi Fernades, que é meu cliente. Num show em Teresina ocorreu uma descarga elétrica no equipamento dele, talvez causada com um curto. Ele estava segurando a guitarra encostou a outra mão no amplificador. Ele estava aterrado pelas cordas e o choque foi grande que ele fraturou uma vértebra.
Zakk é o cara da moda, então eu vivo instalando os EMG 81 e 85 em guitarras aqui. Eu reconheço que o timbre é adequado pra metal extremo e eles têm um ótimo ataque, mas aqueles médios atarracados são complicados de eu engolir. Já tocaram nos EMG ativos de guitarra? Nunca acharam que a guitarra está “gripada” com aqueles médios saindo como se a guitarra estivesse com o nariz entupido? Aí vem a Duncan e lança a nova geração dos seus captadores ativos, dentre os quais o Livewire Mustaine. Eles juram pelo espírito do finado Seth Lover que eles soam como se fossem versões ativas do JB e o Jazz Model. E agora, o que eu devia fazer? Parei, pensei, filosofei, me enchi de coragem, tirei o escorpião do bolso e comprei os malditos.
Se a proposta era ser uma versão ativa do kit Hot Rodded, imaginei que o ideal era instalar os captadores numa guitarra macia e minha Horizon foi escolhida. Só que dando uma olhada no catálogo da Duncan eu vi que os picos de ressonância do kit Mustaine não casavam com o kit Hot Rodded – aliás, não passavam nem perto. Os Mustaine tinham picos em faixas mais baixas que o kit Hot Rodded. Fiquei encucado, mas mesmo assim resolvi esperar os captadores chegarem pra instalar na ESP.
O visual do captador é lindíssimo. Não tem aquela capa feiosa dos EMG e antigos Livewire. Ele tem uma capa metálica cor de grafite com a assinatura do Dave Mustaine estampada e por trás é totalmente selado com resina epóxi. Minha ESP ficou tão linda com eles que eles só saíram dela por causa do timbre: o que estava no catálogo era verdadeiro. Pro meu gosto pessoal os captadores não casaram legal com uma guitarra muito macia. Na Horizon eles não atingiram os picos de agudos que eu gosto pra atravessar o som da banda. Eu nem sonharia em colocar esses captadores numa Gibson.
Mas na minha Teleblaster de cedro aguda feito um curió os Mustaine apareceram e o careca que vos escreve teve orgasmos timbrísticos. Vamos começar pelo óbvio: eles têm um ganho um pouquinho maior que o JB e o Jazz Model, mas nenhuma diferença gritante em termos de ganho. Numa guitarra rachadiça, aquele brilho que faltou na ESP apareceu e o ataque dos agudos ficou bem evidente. Outra coisa que ficou misteriosamente evidente foi o DNA Duncan – os agudos crocantes tipo “mamãe, eu quero ser um captador Gibson!”, os médios amplos, o ataque marrento e até a leve falta de articulação do JB. Todo mundo sabe que pra mim o JB é a drag queen dos captadores (exagerado, caricato e espalhafatoso). No entanto, faça um exercício de imaginação e tente visualizar o JB depois de 3 anos no Exército. O Mustaine de ponte é isso. Curto, grosso, sem frescura, cabelo cortado com máquina, limpo e o mais surpreendente de tudo: não parece em nada com outros captadores ativos. Nada de som processado aqui. Quando eu ouço os EMG eu sei que são EMG e ativos. Mas se eu fizesse o teste cego com o os Mustaine eu jamais diria que é um captador ativo.
O de braço é satisfatório: moderado, agradável e articulado. Faz seu papel dignamente, mas faltou um pouco mais de brilho e informação de médio-agudos. Esse sim deveria ter um pouco mais do caráter do Jazz Model, que é um poço de cristalinidade e brilho. O Mustaine de braço não vai fazer feio na sua guitarra, mas a impressão que eu tenho é que a Duncan gastou mais tempo dando atenção ao modelo de ponte e não foi tão criteriosa na timbragem das faixas altas do outro. Eu não vou gastar o meu tempo e o de vocês falando sobre o desempenho do captador em ganho alto – os captadores timbram polidos, poderosos, rugem alto e foram feitos pra um deus do metal que ressurgiu das cinzas. O que me deixou de queixo caído foi o desempenho dos captadores em ganho médio. Eles soaram são consistentes, tão dinâmicos, tão orgânicos e tão delicados que eu fiquei aqui sem entender como é que um captador com proposta metaleira me deu os sons do Jeff Beck do Blow by Blow!!! Nunca em nenhuma guitarra e captador meus me deram um som tão parecido com o de Cause We’ve Ended As Lovers!!! Não é brincadeira. Só vocês instalando pra acreditar. Curiosidade: veja a resenha sobre o JB e descubra quais captadores estavam na tele que o Jeff Beck usou pra gravar Cause We’ve Ended As Lovers.
Baixa atração magnética, baixa impedância e sem precisar de aterramento de cordas (as vantagens dos captadores ativos não fazem mal a ninguém, concordam?). Mas os Mustaine não têm sons de robô, têm visual deslumbrante e sons com DNA Duncan muito bons. A Duncan abriu a porteira pra fazer outros Livewire com sons mais orgânicos e talvez um par com ganho moderado. Por hora os Blackouts estão por aí devastando o planeta, mas soam mais próximos dos EMG. Enquanto isso os Mustaine são muito bons e não soam processados. Eles parecem apenas com ótimos Seymour Duncan clássicos. E isso é muito bom.
- Preferi usá-lo para: sons de ganho muito alto sem ruídos e timbres com ganho médio como os de Jeff Beck da era Wired e Blow by BLow.
- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que atirar nos sons do Megadeth e acertar em Cause We've Ended as Lovers é uma infelicidade muito feliz.